Há pouco tempo falamos de uma nova variedade de Cattleya dormaniana que floriu no meu orquidário. Tratava-se de uma variedade coerulescens, produto de uma sementeira do orquidário Colibri. Na época uma outra planta do mesmo lote estava com seu botão ainda pequeno, mas totalmente verde e fiquei na expectativa do que iria abrir. Para encanto deste orquidófilo, agora fui contemplado com uma Cattleya dormaniana semi-alba. Planta ainda pequena, vegetando com dificuldade e necessitando de cuidados mais intensos, mas com certeza mais uma rara variedade.
Para aqueles que acreditam em sorte, poderíamos dizer que trata-se de sorte em dobro, mas eu particularmente acredito em probabilidade e credito todo este esplendoroso resultado a qualidade do trabalho de quem realizou a produção destas mudas. Plantas provenientes de orquidários idôneos, que trabalham com matrizes selecionadas, que realmente possuem os pais dos filhos que estão comercializando, tem grande potencial de produzir algo que nos surpreenda e orgulhe.
Infelizmente a etiqueta aceita tudo. Plantas famosas por não produzirem sementes férteis, como a Cattleya walkeriana "feiticeira", triplóides, ou qualquer outra raridade, repentinamente aparecem no mercado em inúmeros cruzamentos, com muitas mudas a venda e preço até que reduzido. Será que estas plantas são realmente aquilo marcado em suas etiquetas, ou simplesmente representam um apelo criminoso de venda, de um produto inferior.
Quantas vezes fomos premiados, após anos de cultivo da nossa pequena muda, com plantas ruins ou até diferentes do gênero esperado. Para nossa surpresa, a explicação vem com frases do tipo:
- Já floriram várias plantas excelentes neste lote! (exceto as 30 que eu tinha em casa!!!!!!)
- Algum funcionário deve ter trocado a etiqueta!!!!
- Espera a floração do ano que vem, que deve melhorar!!! (e a dos próximos 50 anos !!!)
- Era para ser coerulea ( ou semi-alba, alba, puntata, flâmea, etc), mas trata-se de uma sementeira e tem muita variação.
É claro que existe variação. É claro que em uma sementeira esperamos plantas de diferentes padrões. É claro que a herança de cor, forma, tamanho é complexa e de difícil previsão. É claro que erros, troca de etiquetas, muitas vezes ainda no laboratório, podem acontecer. O que não é claro e nem correto é que nós, consumidores finais, assumamos todos os ônus. Quando compramos uma planta, empenhamos no processo sonho, ansiedade, desejo e a frustração do fracasso não é sanada com simples desculpas. Queremos a planta. Queremos a real possibilidade de que naquele lote floresça alguma planta como a propaganda feita.
Precisamos profissionalizar a orquidofilia. Devemos prestigiar aqueles que reconhecidamente tem um trabalho idôneo e pregar o esquecimento para aqueles que vivem da boa fé do público que explora.
Só para exemplificar o desabafo acima, deixo a foto de uma cara Cattleya labiata concolor, comprada por um amigo orquidófilo, adulta mas sem flor (um corte) e que não passa de um híbrido sem nome, que nem ao menos é concolor. Que vergonha.