
A Baunilha
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- Vês como aquela baunilha
- Do tronco rugoso e feio
- Da palmeira - em doce enleio
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- Se prendeu!
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- Como as raízes meteu
- Da úsnea no musgo raro,
- Como as folhas - verde-claro -
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- Espalmou!
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- Como as bagas pendurou
- Lá de cima! como enleva
- O rio, o arvoredo, a relva
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- Nos odores!
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- Que inspiram falas de amores!
- Dá-lhe o tronco - apoio, abrigo.
- Dá-lhe ela - perfume amigo,
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- Graça e olor!
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- E no consórcio de amor
- - Nesse divino existir -
- Que os prende, vai-lhes a vida
- De uma só seiva nutrida,
- Cada vez mais a subir!
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- Se o verme a raiz lhe ataca,
- Se o raio o cimo lhe ofende,
- Cai a palmeira, e contudo
- Inda a baunilha recende!
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- Um dia só! _ que mais tarde,
- Exausta a fonte do amor,
- Também a baunilha perde
- Vida, graça, encanto, olor!
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- Eu sou da palmeira o tronco,
- Tu, a baunilha serás!
- Se sofro, sofres comigo;
- Se morro - virás atrás!
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- Ai! que por isso, querida,
- Tenho aprendido a sofrer!
- Porque sei que a minha vida
- É também o teu viver.
- Gonçalves Dias - 1861
- (fonte wikipédia)
- PS: e dizem por aqui que orquídea não é cultura! Pobres incultos!
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