Há alguns dias, eu reclamava da falta de critério e consistência dos julgamentos a que submetemos nossas plantas. Fico muito triste e pesaroso pois expomos nossas plantas ao calor, falta de umidade, mudanças drásticas de ambiente, transporte com risco de quebra de brotos, vasos, hastes florais, frequentes roubos de parte ou da totalidade da planta, mau olhado, inveja ou qualquer outra praga contagiosa que existir e muitas vezes nem julgadas as plantas são, voltando em branco o espaço reservado para o preenchimento da nota ou da justificativa de não pontuar aquele espécime.
Nas exposições supervisionadas pela Coordenadoria das Associações Orquidófilas do Brasil (CAOB), toda planta inscrita precisa apresentar uma placa de identificação oficial, com o nº do vaso, nome correto da planta e código do expositor, além de ser listada em uma planilha destinada exclusivamente a este fim.
Planilha para julgamento das plantas |
Etiqueta de identificação para os vasos |
Cada planta julgada pode receber pontos de 4 a 9 (em geral 4 a 7, sendo as demais notas muito raras), ou uma letra justificando o motivo da desclassificação da planta:
A - planta com forma inferior ao desejado para a espécie
B - planta com poucas flores
C - problemas no cultivo da planta
D - estado floral (flores passadas ou ainda em botão)
E - estado fito sanitário (plantas com doenças: cochonilha, pulgão, etc)
F - apresentação: vasos que não param em pé, plantas saindo do vaso, vasos sujos, com mato, etc
G - plantas recém coletadas
H - plantas sem identificação
I - plantas com nome incorreto
J - arranjo floral: várias plantas diferentes em um mesmo vaso
K - planta muito jovem (ainda não atingiu o potencial da espécie)
L - acondicionamento incorreto (plantas danificadas no transporte)
Teoricamente nenhuma planta pode estar sem sua pontuação ou letra justificando a desclassificação após o término do julgamento. Não questionarei neste texto a interpretação do juiz. Se a planta merece 4 ou 5 pontos, se ela é melhor do que outras da mesma espécie na exposição, se merece participar do pódio das melhores plantas, isto são critérios pessoais, que dependem do conhecimento e vivência de cada um, da quantidade de plantas da mesma espécie na exposição. Muitas vezes aquela é a primeira vez que vemos a espécie e isto dificulta muito termos juízo de valores em relação ao seu julgamento. Desta vez quero falar apenas do que não foi julgado, ou da planta que preenche todos os quesitos e que é punida por erro do juiz.
Citarei apenas 2 exemplos emblemáticos:
1 - Um casal de associados, Nelson e Marlei Fuentes, enviaram a mesma planta em 4 exposições, com o nome de Hoffmannseggella crispata. Percebam o dado, a planta participou de 4 exposições. Trata-se de um belo exemplar, muito bem cultivado e florido, saudável, adulto e sem motivos para não pontuar. Na exposição de Matão ela voltou sem ponto ou letra de desclassificação. Não viram, não julgaram, não respeitaram o trabalho de um colecionador dedicado que expôs sua planta aos riscos acima descritos. Falha do juiz. Falha do coordenador da exposição. Repetidas vezes pedimos vistas a planilha de julgamento antes do encerramento do dia, mas sempre existem problemas de atrasos, falhas de comunicação, intransigências
ou mesmo má vontade. Na exposição de Araraquara o juiz finalmente viu a planta, mas sem nenhum conhecimento teórico, classificou a planta como letra I, nome incorreto e ainda anotou ao lado o nome de flava. Lembremos que Hoffmannseggella flava é o considerado sinônimo de Hoff. crispata. Sabemos que o nome válido é o primeiro que foi publicado de forma correta e que este acompanhará a planta tendo preferência sobre descrições mais recentes.
Em 1818, o sueco Carl Peter Thunberg, descreve uma nova espécie e a batiza de Cymbidium crispatum. Em 1973 Garay transfere a espécie para o gênero Laelia e temos a forma feminina, talvez o termo mais conhecido e usado: Laelia crispata. Com novos estudos, em 1974, Jones separa um grupo de plantas do gênero Laelia e cria o gênero Hoffmannseggella ( Hoffmannseggella crispata). Mais estudos e em 2000, Van den Berg & Chase incluem o grupo no gênero Sophronitis (Sophronitis crispata). O mesmo Van den berg em 2008 engloba vários gêneros em Cattleya (Cattleya crispata), baseado em estudos filogenéticos. Além desta sequência de mudanças, todas válidas e respeitando a primazia do termo crispata(um), muitos outros nomes inválidos foram cunhados: (Laelia flava (1839 - percebam que o nome está errado há 173 anos e ainda causa erros nos nossos julgamentos), Amalia flava (1846), Amalia fulva (1846), Laelia fulva (1846), Cattleya flava (1854), Bletia flava (1862), Laelia lawrenceana (1865), Laelia flava var. micrantha (1934), Hoffmannseggella flava 1970), Laelia caetensis )1975), Laelia gardneri Pabst ex Zappi (1995), Sophronitis caetensis (2000), Hoffmannseggella caetensis )2002) e finalmente Cattleya caetensis (2002). Percebam que esta sequência de nomes diferentes, acontecem sempre baseados na premissa de que o descritor anterior havia criado uma nova espécie válida e não trocado o nome válido e correto de uma espécie já descrita. Lembremos que se hoje com internet e globalização mundial, mesmo 173 anos depois da querida Hoffmannseggella crispata ter sido corretamente descrita, ainda confundimos os nomes, como seria numa época que as mensagens dependiam de navios, manuscritos ou qualquer outra antiguidade.O Roya Botanic Garden de Kew, um dos pilares do conhecimento atual, adota como válido o nome Cattleya crispata.
Para piorar a nossa história a pobre planta relegada ao ostracismo, participou da exposição de Poços de Caldas onde também não foi vista e julgada e finalmente em Jaú ganhou nova letra I e a correção para flava (descupem não foi uma correção e sim uma incorreção). É de matar.
2 - O segundo caso é do híbrido entre Guarianthe aurantíaca x Enciclya incumbens, batizada de Guaricyclia Kyoguchi "Happy Field". O juiz descontente com o nome informa na planilha que o nome correto é Epicattleya. A descrição das mudanças de nome eu deixo para os mais interessados e pacientes procurarem, pois acho que já falei demais.
Infelizmente todas as semanas vivenciamos falhas como estas e depois do fim do evento para quem vamos reclamar? A planta já não está na mesma condição do dia de julgamento, o juiz já foi embora, etc.
Fica claro que não podemos cometer erros simples, com fácil solução por pesquisa em sites de confiança ou livros sérios. Nossas plantas e nosso esforço merecem mais. Para a exposição de Piracicaba, criaremos uma central de pesquisa no local do julgamento, assessorando os juízes e evitando erros como os descritos. Aguardem.
Um comentário:
Boa noite,
Apenas para confirmar a falta de conhecimento da maioria dos Juízes da CAOB, mais grave foi colocar uma Cattleya Guatemalensis na exposição do final de semana (14, 15 e 16 de setembro) em Bragança Paulista no Podium no grupo 2 (Cattleya espécie estrangeira), quando o correto é Guarianthe Guatemalensis que é um híbrido entre Gur. Aurantiaca e Gur. Skinneri, portanto um híbrido mais que conhecido por qualquer apreciador de orquídeas, menos pelos JUÍZES da CAOB.
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